terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O rizoma e a arvore

Gilles Deleuze e Félix Guattari falam de uma nova estruturação, diferente da hierarquização arborescente que normalmente acontece em todos os setores da nossa vida: na psicanalise, na linguística, nos livros, nas relações da nossa sociedade. Eles falam de uma estrutura em rizoma, passível de uma esquizoanalise. Segundo os autores, diferentemente das árvores ou de suas raízes, o rizoma conecta um ponto qualquer com outro ponto qualquer e cada um de seus traços não remete necessariamente a traços de mesma natureza. Ele põe em jogo regimes de signos muito diferentes, inclusive estados não-signos. O rizoma não parte de um ponto que se multiplica. Ele não é feito de unidades, mas de dimensões. Ele não tem começo nem fim, mas sempre um meio pelo qual ele cresce e transborda. Ele muda sua natureza e se metamorfoseia. Diferente de uma estrutura, que se define por um conjunto de pontos e posições, por correlações binárias, o rizoma é feito de linhas: linhas de segmentaridade, de estratificação, como dimensões, mas também tem que haver linhas de fuga ou de desterritorialização, segundo a qual, a multiplicidade se metamorfoseia, mudando de natureza. Se opondo as linhagens de tipo arborescente, que são somente ligações localizáveis entre pontos e posições. Diferente da árvore, o rizoma não é objeto de reprodução. O rizoma é uma antigenealogia. A árvore nos leva aos decalques (representações que somos ensinanados a ver como se fosse a estrutura de verdade), o rizoma se refere a um mapa que deve ser produzido com múltiplas entradas e saídas, com suas linhas de fuga. Esse mapa é importante para poder analisar a melhor forma, a melhor saída do decalque. O rizoma é a-centrado não hierárquico e não significante, sem memória organizadora ou autômato central, unicamente definido por uma circulação de estados. Os rizomas fazem agenciamentos maquínicos de desejo assim como agenciamentos coletivos de enunciação. Não existe mais um campo de realidade, o mundo, um campo de representação, o livro, e um campo de subjetividade, o autor. Um agenciamento põe em conexão certas multiplicidades tomadas em cada uma destas ordens, de tal maneira que um livro não tem sua continuação no livro seguinte, nem seu objeto no mundo nem seu sujeito em um ou em vários autores.
Os autores falam em uma forma talvez mais democrática de pensar a realidade, onde não haveria maior nem menor, superior e inferior, mas uma relação interlaçada de tudo com todos, todos interligados e no mesmo patamar de nós na rede. Para eles o rizoma e o mapa são a forma de sair do mundo dos decalques - podemos fazer uma analogia ao mito da caverna de Platão, onde os decalques seriam as sombras e o rizoma a luz. Com o mapa poderíamos analisar bem e achar a(s) saída(s) para as imposições feitas pela sociedade desde o começo do nosso desenvolvimento e poderíamos ter um mundo, onde todos poderiam pensar e desenvolver a sua rede à sua forma, sem hierarquização e forma imposta de conhecimento, onde todos achariam a sua forma de ver e se relacionar com o mundo ao seu redor.

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