quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Meio: Corpo

A entrada na Modernidade, a partir do século XV, ocasiona uma transformação que não é pouco severa ao se dirigir ao corpo. De constituinte fundamental do ser humano, ele passa a suporte de algo que lhe é extremamente superior e valioso: a capacidade de pensar, cujo abrigo se encontraria na mente.
Com a sentença “penso, logo existo”, proferida por Descartes, o corpo cósmico cede lugar a uma noção de corpo enquanto matéria que serve a uma mente. Um corpo fechado, acabado, entendido como máquina (em sua lógica de funcionamento), que não traz em si quaisquer representações que o conectassem ao mundo, assim a morte e a vida passam a ser vistas separadamente, como início e fim; perde-se a qualidade de eterno retorno do mundo cósmico.
Situar o corpo como mero receptáculo da mente traz implicações capazes de promover uma reorganização da sociedade, deixando para trás a aceitação de um sistema feudal, baseado em castas, cuja mobilidade era mínima, para adentrar em uma sociedade burguesa que iria valorizar aqueles cuja capacidade de raciocinar, aplicada aos negócios, fizessem-nos destacar.
O corpo, a partir deste contexto, não é um objeto atural apenas, mas sim, um valor produzido por características culturais e físicas. É através desta concepção de corpo, capaz de adquirir valor dependente da cultura em que se encontra, sustentada na proposta de divisão corpo e mente da Modernidade,que foram possíveis os entendimentos sobre o corpo como um manequim e o corpo máquina.
As vestimentas, são capazes de definir os corpos no ambiente público. É no século XVIII que o corpo aparece como um artifício localizador e posicionador de status social. O corpo público, aquele exibido nas ruas das cidades européias, torna-se um manequim, no sentido de um corpo-suporte, pois as roupas adquirem a função de sinalizadoras de ofício (a vestimenta de um artesão
difere-se da de um advogado), inclusive com leis que proibíam, na França e Inglaterra, que indivíduos se vestissem com roupas que não pertencessem aos seus estratos. As roupas seriam, neste contexto, responsáveis pela definição de uma ordem social.
No ambiente privado, as pessoas, em especial a burguesia, podiam se vestir de acordo com as necessidades de seu corpo e de suas vontades, entretanto nas ruas era imprescindível observar as regras a fim de que fosse possível ser reconhecido e identificado imediatamente por qualquer passante. A desobediência ao sistema de vestimentas permitido a cada classe, quando percebida, ocasionava a ridicularização daqueles que queriam se passar por pertencentes a uma classe
superior à qual realmente se encontravam.

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