segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O conceito e o ideal de homem


Segundo Agnes Heller durante a Antiguidade o ideal de homem coincidia essencialmente com o conceito de homem. Há mais de um pensador na Antiguidade que fala sobre o assunto, mas para todos o ideal e o conceito coincidem. Sócrates dizia que o homem, conhecendo o bem, pode praticá-lo e o homem ideal é aquele que, conhecendo o bem, o aplica. Platão declarou que a capacidade do homem de contemplar a idéia é a sua qualidade mais essencial, assim o homem ideal era o que atingia a contemplação das idéias. Para Aristóteles o homem era um animal a social, portanto o seu ideal era o homem social. Epicuro disse que nada existia para o homem em menor grau do que a sua morte, o seu ideal era um homem que pudesse viver de modo a não se preocupar com a sua morte. Sócrates não acreditava que todos os homens fossem capazes de reconhecer o bem e praticá-lo, mas o indivíduo que não o fazia apenas ainda não tinha atingido o ideal de homem.
Já na cristandade medieval, se tinha uma concepção dualista, em franca contradição entre si. O conceito de homem fundamentava-se na ideia de perversão, e o seu ideal na idéia de graça. Também surgiram alguns conceitos novos com relação a Antiguidade, como a idéia de igualdade (igualdade perante Deus), a noção de salvação pessoal, onde a relação do homem com um Deus pessoal era separada da sua relação com a comunidade, e a idéia do livre arbítrio que colocava a questão de algum tipo de liberdade particularmente individual.
Durante o Renascimento a base social da concepção cristã do homem deixou de existir. Começava a surgir um homem multifacetado. O conceito cristão medieval tradicional, foi gradualmente deslocado pelo conceito dinâmico renascentista de homem. Surge um sistema pluralista de valores morais. O dinamismo do conceito de homem refletia a mesma transformação revolucionária da vida social e da vida humana que a desintegração da unidade do ideal de homem.
Segundo Heller, no mundo harmonioso mas estático da Grécia Antiga o homem era identificado, de uma maneira finita, com as possibilidades ideais de um sistema de valores dado, imutável. A pluralidade de ideais do Renascimento era um reflexo da desintegração da sociedade em classes sociais. Nas várias fases do desenvolvimento burguês, cada grupo social e cidade possuía os seus próprios ideais e o seu próprio sistema concreto de valores.
Marx não subordinou os ideais a um conceito abstrato do homem, nem fundamentou o seu conceito de homem num conjunto de ideais humanos. Marx nos mostra um conceito histórico concreto de homem que se transforma no ideal de homem. Para Marx, a humanidade, ou homem-para-todos-nós, não decorre de alguma meta subjetivamente definida ou de um pensamento de desejo, mas da essência do homem e do seu desenvolvimento. O ideal de humanidade e o ideal de homem são apenas o conceito do seu possível resultado final.
Durante a história temos vários conceitos e ideais de homem mas talvez o conceito de Marx seja a última tendência do desenvolvimento humano.

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