Em “Da Miséria do Meio Estudantil” e “Sociedade do Espetáculo”, Guy Debord comenta que o espetáculo é uma configuração social em que há uma fragmentação da vida, e que os indivíduos consomem passivamente as imagens de tudo o que lhes falta em sua pobre existência real.
É por isso que as estrelas de TV e cinema, políticos e outras personalidades têm grande importância, pois vivem no lugar dessas pessoas. A realidade, então, torna-se uma imagem, e as imagens tornam-se realidade.
Espetáculo significa tornar-se abstrato, porque, para Debord, a imagem é uma abstração do real. Essa abstração é, na realidade, conseqüência do próprio sistema capitalista da mercadoria.
Mas a sociedade do espetáculo não é exclusiva do capitalismo. Na URSS, o comunismo de Estado assegurou que os possíveis rebeldes se identificassem com a imagem da revolução, e não participassem realmente das decisões políticas, delegando a ação real aos Estados e aos partidos comunistas.
É importante, portanto, repensar o sistema atual desde sua raiz, e o estudante seria, para Debord, uma peça fundamental para esse debate. Porém, o escritor francês se dá conta em “Da Miséria do Meio Estudantil”, como os próprios universitários possuem uma falsa consciência política e ficam felizes com seu pseudo-engajamento.
Ele frisa como os estudantes continuam a ser conservadores, mantendo comportamentos eróticos tradicionais, acreditando na imprensa especializada e agindo de acordo com os preceitos religiosos do catolicismo. Acima de tudo, o que mais preocupa Debord é a participação incondicional dos estudantes as mercadorias culturais. Sobre isso, diz ele:
“ [o estudante]se considera de vanguarda porque assistiu ao último Godard, comprou o último livro argumentista, participou do último happening desse Lapassede, uma besta. Ignorante, ele acredita serem novidades “revolucionárias”, garantidas por certificado, as piores versões de antigas pesquisas efetivamente importantes em seu tempo, edulcoradas para uso do mercado. A questão será sempre a de preservar seu nível cultural. O estudante se orgulha de comprar, como todo mundo, as reedições em livro de bolso de uma série de textos importantes e difíceis que a “cultura de massa” dissemina num ritmo acelerado. Só que ele não sabe ler. Ele se contenta em consumi-los com o olhar.”
O estranho é que Debord não está errado ao criticar a juventude de sua época, mesmo assim, nós podemos perceber como a geração de 68 foi combativa e como agiu politicamente para transformar o mundo em que vivia. É de se perguntar, então, o que Debord diria sobre a nossa geração que ainda está muito longe de gerar uma reflexão aprofundada sobre a sociedade contemporânea, a globalização e a cultura digital.
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