domingo, 6 de dezembro de 2009

Complexo de Robocop

A maioria dos campos do saber buscou estudar e compreender o corpo de forma mecanicista. Isso fica claro na medicina, onde o corpo é entendido de acordo com suas funções (e as doenças, portanto, não são mais que o mau funcionamento de algum órgão) e na arte, onde o corpo foi basicamente utilizado como suporte. Visões semelhantes fazem parte das tradições religiosas (corpo como mediação com Deus), nas empresas (a idéia de corporação), além da enfermagem, filosofia, etc.

Por diferentes tradições filosóficas essa visão inorgânica do corpo humano imperou. A compreensão de um corpo orgânico, ou seja, animalesco, nunca agradou os estudiosos. Na tradição grega, por exemplo, Platão criou o conceito de corpo triádico: Alma, Razão e Pulsão, esta última como os desejos ou instintos do ser humano, que devem ser contidos pela razão.

Na Idade Média, por sua vez, existe um dualismo entre alma e razão ou razão e pulsão. A alma é eterna e o corpo propenso ao pecado. A divisão entre mente e corpo continua na modernidade, onde a racionalização é a base para as idéias de progresso e industrialização.

Por fim, no contexto pós-moderno, nasce o conceito de corpo sem órgão. Um corpo superficial, mais um artefato de inserção em alguma tribo do que um organismo individual. Nasce também, o conceito de corporeísmo, ou estética do corpo. O corpo desejado projeta-se como um avatar.

A tecnologia terá uma função essencial nessa questão, porque nosso corpo biologicamente não está preparado para acompanhar a velocidade das modificações tecnológicas. Nossa memória não é capaz de guardar todas as informações que recebe, nós não podemos enxergar todo o espectro de cor, ou discernir todos os cheiros existentes. Pensar a tecnologia como extensão do homem é interessante e perigoso, pois a tecnologia da mesma forma que nos dá poder, ampliando nossa capacidade corpórea, nos deixa dependentes.

É a partir daí que diversas patologias relacionadas ao corpo e à imagem surgem, anorexia, bulimia... As cirurgias plásticas tinham como finalidade consertar deformações causadas por acidentes ou tornar mais plásticas algumas imperfeições, no entanto, milhares de adolescentes com o corpo ainda em transformação realizam operações puramente estéticas.

A neurose de um corpo perfeito chega ao ponto de transformar o organismo em algo efêmero, por meio de tatuagens até comportamentos parafílicos, como a apotemnofilia e a acrotomofilia, em que a excitação sexual só é alcançada quando um Membro do corpo é amputado. Intervenções que substituem partes do corpo por peças biônicas, também são exemplos dessa nova cultura que tenta transcender o corpo.

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