sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O que é Esclarecimento?
Immanuel Kant(1784)

Immanuel Kant escreveu 'Que é Esclarecimento' em 1783, exatos seis anos antes da Revolução Francesa, movimento de inspiração iluminista que alterou não só o quadro social da época, quanto a economia e a política.

Para Kant, o esclarecimento é a resistência do homem da mediocridade imposta tanto por ele mesmo quando pela sociedade. Ele mesmo é o culpado por isso, pois deixa-se guiar por outros indivíduos e comunidades, sem questionar ou ter opinião própria, por preguiça ou covardia. O esclarecimento é a habilidade de ser seu proprio guia e obter o conhecimento através de si mesmo. Sempre deverá existir pensadores independentes mesmo que pressionados pelos guardiões da multidão.

O indivíduo deve ter uma autonomia alheia ao obedecer e ao não questionar da comunidade; deve-se pensar racionalmente por si mesmo, dirigindo-se tanto para si quanto para o público. Um homem não deve violar ou se privar de seus direitos perante á sociedade. É necessário se possuir liberdade, além de repertório de conhecimento pessoal, uma liberdade que o deixe ileso á ordens externas quanto a falar por si.

É necessário se tornar esclarecido, com liberdade, e com a certeza de o fazer por auto-imposição. Deve ser livre para ter suas idéias e para coletá-las, é expressamente poribido concordar com uma instituição por moral e não por conceitos. Isso seria "aniquilar um período para o progresso do aperfeiçoamento humano."

O homem deve adquirir conhecimento, estender análises e críticas sobre ele, utilizando a razão, a lógica e a ética. Deve-se também dividir esse entendimento com o benefício de toda a sociedade. Deve se achar algo em que é bom, e participar da sociedade dividindo esse conhecimento. O esclarecimento não é só um comprometimento consigo, com a própria saída de sua menoridade, mas também com toda a sociedade.

A Sociedade do espetáculo
Guy Debord(1976)
Negrito
Guy Debord, considerado uma das maiores figuras do movimento contestatório, escreveu 'A Sociedade do espetáculo' em 1976 marcando um ponto importante na crítica da sociedade da abundância.

Trata-se da crítica do controle dos meios de comunicação sobre a massa, da sociedade em que a vida real não é interessante e os indivíduos são obrigados a consumir de forma passiva tudo que lhes falta em sua vida verdadeira. A imagem torna-se mais real do que o que é palpável; torna-se mais interessante ser conhecido do que ter, ao mesmo tempo em que os homens tornam-se mercadorias também.

"O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas midiatizada por imagens."Debord 1976

O espetáculo torna o homem abstrato no mundo, junto com a abstração da imagem que reflete o "real." A generalização disso é conseqüência do capitalismo. Os homens submetem-se a economia como única sobrevivência e a alienação do público torna-se uma religião.

"(...) o consumo contínuo de mercadorias multiplicou em aparência os papéis e objetos a escolher.'

Debord condena essa sociedade, não só o indivíduo como conjunto. Perde-se não só a própria individualidade como qualquer influência num todo, sendo passivo ao que lhe é imposto. Não importa mais o conhecer, ou conviver, importa o consumir.

(...) a própria insatisfação tornou-se mercadoria, desde que a abundância econômica se viu com condições de estender sua produção ao tratamento de semelhante matéria-prima."

Dialética do Esclarecimento
Adorno e Horkheimer 1947

Adorno e Horkheimer , estudiosos da escola de Frankfurt, criaram o conceito de indústria cultural. O comércio favorecido pelas revoluções industriais havia transformado e expandido os valores do consumo para muito além da economia e da política social. Os autores analisam a produção industrial dos bens culturais como movimento global de produção da cultura como merdadoria. Ela fornece bens padronizados para satisfazer às numerosas demandas, com uma produção quase fordiana de elaboração.

Tudo torna-se negócio, comércio, consumo."Enquanto negócios, seus fins comerciais são realizados por meio de sistemática e programada exploração de bens considerados culturais". O que era antes arte, para abstração, estudo, torna-se mais um meio de manipulação do indivíduo e forma de se fazer dinheiro.

Para eles a transformação do objeto cultural em valor monetário suprime sua função crítica e conceitual e nele dissolve os traços de uma experiência que fosse autêntica. A cultura vira mero entretenimento, e um entretenimento vazio de qualquer abstração, onde domina-se a sociedade. Há uma depravação da cultura e uma espiritualização forçada do conceito de diversão.

Mascara-se qualquer técnica, objetivo, moral ou ética artística. Critica-se também a sociedade que permite esse tipo de irracionalidade.

"A Indústria Cultural impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente."

O Olhar
O Pareolhar da Televisão
Décio Pignatari

A televisão para Décio Pignatari é um jogo de olhares. É o olhar do espectador, o olhar da própria televisão, uma abertura das nossas vidas cotidianas para a entrada de um olhar diferente. Tem-se uma dose diária de mídia, quase como que um medicamento, seguido religiosamente como necessário para a sobrevivência. "Quem assiste televisão é assistido por ela, olho quase extra-terreno feito de gotas audiovisuais sonoras, deferidas por um chuveiro pirotécnico de elétrons coloridos."

Quem não assiste á televisão não pertence á sociedade ou a qualquer núcleo social. O olhar comunicacional da televisão não exige a seleção, a vivência, repertório ou reflexão. Ela exige apenas disponibilidade, a vontade, e essa necessidade é que remete á abusiva demanda televisiva. A narrativa da imagem passa a ser adaptada para o agrado do olhar do observador. Assim como o olhar da tevê está sobre ele.

A teve visa o consumo. Há indução de mercado, de necessidades, de interesses. Vicia e é necessário como o consumir de alimento.A partir da Segunda Revolução Industrial, não se tem mais controle sobre o que vira produto. A televisão como produto, uma via de duas mãos.

"Nessas quatro décadas de existência, continua mais um vício do que uma paixão ou afeição.(...) a Tv não é questão de obsessão, paixão ou afeição: é questão de vício."

Novas Midias e Subjetividade

Esse post gigante é o trabalho que eu fiz pra outra matéria mas que tem tudo haver com as discussões que tivemos em sala de aula com o Urbano.




Novas mídias e subjetividade

Na pós-modernidade, nossa vida passou a ser permeada pelas máquina e pelas tecnologias digitais como nunca havia sido antes. As aceleradas mudanças que ocorreram no final do século XX introduziram novas noções de espaço e de tempo, novas formas de nos relacionarmos com o outro e com nós mesmos, de entender o mundo à nossa volta. As novas máquinas passaram a incidir a tal ponto em todas as formas de produção, pensamentos, enunciados, imagens, narratividade e afetos que chegamos a nos perguntar se a própria essência do sujeito não está contaminada pela dependência das máquinas. Esse trabalho pretende analisar as obras que entrei em contato a respeito da relação das mídias com a subjetividade. Trata-se na verdade de um tema muito amplo no qual muitos autores já se debruçaram, e minha intenção aqui é me aproximar apenas da reflexões de alguns autores que são cruciais para a discussão da subjetividade e mídia, mas não pretendo de modo algum abarcar toda a discussão que já foi feita sobre o tema. É um recorte à luz de alguns textos escolhidos.

Em um texto intitulado Infinitude da comunicação/finitude do desejo, em que Antonio Negri (1993) tece considerações acerca da relação mídia-espectador, ao falar do que ele denomina de “máquina da mídia”, considera que ela “produz conscientemente códigos infectos e epidêmicos, destinados a impedir e curto-circurtar os mecanismo de produção simbólica. Seleção estratégica e instrumental dos conteúdos de informação, reversão sistemáticas dos sentidos e dos valores, redução da informação à mercadoria e da comunicação à vendível e à futilidade” (Negri, 1993: 173). À primeira vista, tal afirmação poderia nos levar a entender que Negri (1993) estaria demonizando a tal máquina da mídia, mas o autor segue, “o ser humano não é unidimensional, e temos que recusar resolutantemente essas concepções de que falamos até agora [se refere a teóricos que demonizam a mídia] e que a esquerda moralizante e pessimista encampou. Em primeiro lugar porque estão erradas; e depois porque tem como resultado impotência ética e derrotismo político”. (Negri, 1993: 174)

Outro autor que revela um ponto de vista semelhante é Guattari (1987). Em artigo intitulado Da produção de subjetividade afirma que não é o caso de demonizar a mídia. Para ele as máquinas são, de fato, capazes de criar enunciados e registrar estados em nano segundos, além de serem capazes de produzir imagens que não tem nenhuma referência com o real representado (retomando aqui um conceito de Couchot, 1993). Entretanto, isso não faz delas uma potência diabólica que está destruindo o homem. “Na verdade, não tem sentido o homem querer desviar-se das máquinas já que, afinal de contas, elas não são mais do que formas hiperdesenvolvidas e hiperconcentradas de certos aspectos da sua própria subjetividade.” Guattari, 1987: 177).

Ambos os autores afirmam que as novas mídias podem ajudar o homem a produzir novas subjetividades, que culminariam numa mudança radical na sociedade de consumo. Mas antes de desenvolvermos essa questão é importante entender o que estes autores entendem por subjetividade.

Conceituação de Subjetividade

A tradição filosófica ocidental sempre reafirmou uma dicotomia sujeito-objeto e, muitas vezes, foi com base nessa dicotomia que se entendeu subjetividade, sendo ela qualidade do que é subjetivo, referente ao sujeito e em contraposição com a objetividade. A Psicologia faz amplo uso dessa idéia de subjetividade, entendendo-a como a propriedade constitutiva do fenômeno psíquico do sujeito pensante. É o caráter de individualidade de um sujeito. Ao ser pensada dessa maneira pode-se entender que a subjetividade não se altera com as transformações histórica, sociais, tecnológicas.

Foucault (data, apud Miranda, data), ao criticar a dicotomia sujeito-objeto, pode nos ajudar a entender o que é subjetividade de outro modo. Ele afirma que a distinção de um universo subjetivo paralelamente a um objetivo representa uma estratégia filosófica enganosa, pois ambos se encontram implicados entre si e são indissociáveis. A crítica de Foucault abarca também toda uma rediscussão da idéia de sujeito e de objeto ao lembrar que, “nas ciências humanas, o homem ao estudar o próprio homem, torna-se sujeito e ao mesmo tempo objeto do conhecimento. O que hoje entendemos por Eu é simultaneamente sujeito e objeto da história” (Foucault, data:página). Ao mesmo tempo em que o homem, enquanto sujeito do conhecimento torna as experiência possíveis, elas também o ultrapassam. Foucault não acredita que não exista sujeito, mas acredita que sujeito e objeto são formados e transformados mutuamente. Isso é a constituição do sujeito em Foucault.

Miranda também nos mostra como Foucault entende como o “avanço do poder disciplinar” ajudou a constituir um sujeito individualizado. Antes do poder disciplinar, na Idade Média o poder era apenas coercivo; a estratégia de poder soberano do rei era a punição. O poder disciplinar aparece nos séculos XVII e XIX, com a constituição dos estados modernos, em que a estratégia de dominação não é mais a repressão, mas sim a estimulação e o incentivo, produzindo sentimentos e condutas até então inexistentes que se disseminam anonimamente pelo corpo social. Não é somente a interiorização do poder, mas a criação de um novo domínio: o sujeito individualizado que se controla a si mesmo. O desenvolvimento das indústrias também trouxe uma individualização do trabalhador, já que passou a ser necessária uma especialização do trabalho. Para Foucault, o poder disciplinar é uma das grandes invenções da sociedade burguesa. O poder passa a ser menos centralizado e estar presente em todo lugar, pulverizado. Através de práticas disciplinares, o indivíduo é sempre confinado a uma instituição (fábrica escola, empresa, prisão) que irá diferenciar o sujeito individualizado. Com essas idéias podemos ver claramente como surge o sujeito individualizado, e como os aspectos sócio-históricos alterarem a subjetividade individual. É importante pensar a subjetividade para além da individualidade. Para Foucault, devemos recusar a individualidade que nos foi imposta durante séculos para que possamos promover novas formas de subjetividades.

Também para Guattari (1987) existe uma distinção entre individualidade e subjetividade, pois para ele a subjetividade é fabricada e modelada no registro social. Segundo Miranda (data), a crítica que Guattari (1987) faz da Psicanálise está relacionada com o conceito de subjetividade que esta adota, que acaba por pensar a subjetividade como sendo constituída apenas num ambiente familiar, não num ambiente social A heterogeneidade da subjetividade vem das inúmeras facetas do comportamento onde participam, desde a trama familiar, até questões de natureza histórico-culturais, tecnológicas etc.

É o desenvolvimento do capitalismo que traz a marca da individualidade conforme a entendemos. “Quando vivemos nossa existência, nós a vivemos com as palavras de uma língua que pertence a com milhões de pessoas; nós a vivemos com um sistema de trocas econômicas que pertence a todo um campo social; nós a vivemos com representações de modos de produção totalmente serializados”. (... apud Miranda, data)

Subjetividade e Máquina

Assim sendo fica claro que hoje, numa sociedade dependente maquinicamante, a subjetividade é totalmente dependente da máquina. Isso é uma novidade? Não. Guattari (1987) afirma que as subjetividades pré-capitalistas, ou arcaicas também são engendradas por diversas máquinas. Máquinas sociais, retóricas, clãnicas, religiosas, militares corporativistas, as quais ele classifica como sendo os “equipamentos coletivos de subjetivação”. Podemos pensar, por exemplo, a monarquia como sendo uma máquina de subjetivação. A etiqueta, os fluxos de poder, de dinheiro e prestígio da corte de Versalles eram máquinas concebidas para sedimentar uma subjetividade aristocrática, afirma o autor.

Guattari (1987) não se propõe a retraçar a história desses equipamentos coletivos da subjetividade, mas ele destaca algumas vozes/vias [do francês voi(x)(e)] que esses equipamentos produziram e das quais o entrelaçamento estão nas bases de processos de subjetivação das sociedades ocidentais contemporâneas. Não se pretende aqui chegar a detalhar o complexo conceito de “vozes” para Guattari; basta sabermos que essas vozes são aspectos da subjetividade do homem que surgiram ou foram criadas em função de situações históricas. Pretendo agora apenas descrever quais são as situações históricas que o autor coloca como sendo essenciais para o desenvolvimento de alguns aspectos da subjetividade (e das vozes), e assim também entender como que novas subjetividades são criadas.

Idade da Cristandade Européia

Guattari (1987) afirma que na subjetividade que nasce na cristandade européia (que, entendo, refere-se à Idade Média) existe um certo equilíbrio entre homem e máquina. Neste caso, há dois aspectos básicos a serem considerados: o primeiro tem como característica “as entidades territoriais de base relativamente autônomas, de caráter étnico, nacional, religioso, que no começo deviam constituir a textura da segmentária feudal, mas que foram levadas a manter-se, sob outras formas, até nossos dias” (Guattari, 1987: 183). A meu ver, Guattari se refere aqui à própria organização da sociedade em feudos, com características específicas diferentes, que lhes dava unidade, com o poder centralizador do rei. Mais tarde, ao invés de se dissiparem, esses feudos acabam por se tornarem os Estados Nações que conhecemos. Essa organização social ajuda a cunhar um tipo de subjetividade. O segundo aspecto seria “a entidade desterritorializada de poder subjetivo que a igreja católica era portadora e que foi estruturada como Equipamento coletivo em escala européia” (Guattari, 1987:183), ou seja, o poder que a igreja católica alcançou em toda a Europa não era um poder físico, mas um poder ideológico. A igreja não tinha uma unidade orgânica, “mas o desaparecimento de um Cesar de carne e osso e a promoção, que se ouse dizer substitutiva, de um cristo desterritorializado, longe de enfraquecer os processos de integração da subjetividade, ao contrário, os terão reforçado.” (Guattari, 1987: 183)

Subjetividade e sociedade

O autor segue: “parece-me que da conjunção entre a autonomia parcial das esferas política e econômica, própria da segmentaridade feudal, e esse caráter hiperfusional da subjetividade cristã, tenha resultado uma espécie de falha de equilíbrio metaestável favorável à proliferação de outros processos igualmente parciais de autonomia que reencontraremos nos seguintes fenômenos: na vitalidade cismática da sensibilidade e da reflexão religiosa característica desse período; na explosão de criatividade estética que, na verdade, desde então, nunca mais parou; na primeira grande decolagem das tecnologias e das trocas comerciais, [...] que foi correlativa do aparecimento de novas figuras de organização urbana” (Guattari, 1987:183). A meu ver, o autor quer dizer que a subjetividade da Idade Média acaba por culminar numa transformação da sociedade medieval com o cisma religioso, a explosão estética na arte, e nos avanços da tecnologia industrial e desenvolvimento do comércio que são, na verdade, características básicas para que o capitalismo possa se instaurar na sociedade, superando então a Idade Média. Ou seja, nesse ponto saímos da Idade da Cristandade Européia, para o que o autor chama de Idade da Desterritorialização Capitalista dos Saberes e das Técnicas, (ou Idade Moderna, apesar do autor nunca fazer essa relação diretamente).

Até onde posso perceber, Guattari (1987) está nos mostrando como que características que criam novas subjetividades acabam por transformar a sociedade, acarretando em novas características sócio-histórico-culturais e assim por diante.

A Idade da Desterritorialização Capitalista dos Saberes e das Técnicas

A Idade da Desterritorialização Capitalista dos Saberes e das Técnicas (a meu ver, a Idade Moderna) vai afirmar-se a partir do século XVIII e criar um componente da subjetividade capitalística que é marcado por um desequilíbrio crescente na relação homem-máquina. “Antes era o Déspota real e o Deus imaginário que serviam de pedra angular operacional para a recomposição local de territórios existenciais. Agora será uma capitalização simbólica de valores abstratos de poder, incidindo sobre saberes econômicos e tecnológicos, articulados a duas classes sociais desterritorializadas e conduzindo a uma equivalência generalizada entre todos os modos de valorização dos bens e das atividades humanas” (Guattari, 1987:185).

Algumas das características que caracterizam a subjetividade dessa época:

- uma penetração dos textos escritos e um apagamento da cultura oral, isso permite maior capacidade de acúmulo de conhecimento;

- o predomínio do aço e das máquinas a vapor;

- uma manipulação do tempo, que fica literalmente esvaziado de seus ritmos naturais (como por exemplo, o dinheiro a crédito, que funciona em outro tempo, ou a velocidade dos novos meios de transporte);

- as revoluções biológicas que aproximam da ou produzem a indústria bioquímica;

As relações sociais e os órgãos dos homens passam a funcionar de acordo com as exigências maquínicas globais do sistema em que ele vive; eles tentam se universalizar. Porém, o que é paradoxal nessa tentativa, segue o autor, é que por mais que os órgãos e faculdades tentem se universalizar, historicamente eles nunca podem chegar a outra coisa senão a um retorno sobre si mesmo. E ao meu ver, Guattari nos leva a entender que é nesse aspecto da auto-referencia que vai desembocar numa nova subjetividade, que aparece na pós-modernidade.

Idade da Informática Planetária

Guattari (1987) afirma que hoje vivemos na Idade da Informática Planetária (imagino, seja o mesmo que pós-modernidade). Agora, diferentemente de outras épocas, a subjetividade não é só dependente da máquina, hoje a máquina tem o controle da subjetividade. Algumas características dessa nova era seriam as seguintes:

- A mídia e as comunicações tendem a duplicar as antigas relações orais e escriturais. Existe uma polifonia, que não é apenas de vozes humanas, mas também de vozes robóticas.

- A opinião e o gosto coletivo são trabalhos de dispositivos estatísticos produzidos pela publicidade e pela indústria cinematográfica.

- As matérias primas naturais são substituídas por materiais sintéticos de fabricação química.

- A energia nuclear nos apresenta novas fontes aparentemente inesgotáveis de energia, com consequências catastróficas ao meio ambiente.

- O tempo é o trazido pelos computadores que permitem tratar em lapsos minúsculos de tempo as gigantes quantidades de problemas e dados. .

- A engenharia biológica abre portas para uma remodelação dos seres vivos, as pesquisas genéticas mudam as referências etológicas quando podemos criar qualquer ser vivo.

Desse percurso histórico, o que cabe especificamente pontuar é a questão levantada por Guattari: por que as potencialidades trazidas por essa revolução digital “até agora só fizeram levar a um reforço dos sistemas anteriores de alienação, a uma mass-midiatização opressiva e a políticas consensuais infantilizantes?” O que irá permitir que estas potencialidades desemboquem enfim num pós-mídia, que as livre dos valores capitalísticos segregativos e crie condições para o pleno desabrochar dos esboços atuais da revolução da inteligência, da sensibilidade e da criação?” (Guattari:1987). Em outra palavras, quando a subjetividade forjada pela revolução da pós-modernidade vai fazer com que possamos superar o capitalismo e a sociedade do consumo, assim como aconteceu com as demais subjetividades e suas respectivas situações sócio-históricas?

Negri, no seu texto já citado a cima acredita que a mídia como pode ser base para um tranformação social: “o triunfo do paradigma comunicacional e a consolidação do horizonte da mídia abrem espaços de luta para a transformação social e a democracias radical. Devemos lutar contra os agentes que repetem, nesse novo modo de produção de subjetividade, as velhas normas que tentam se reapropriar da mídia.”

Guattari (1987) termina suas reflexões neste artigo afirmando que as subjetividades que até hoje levaram a humanidade a produzir as terríveis segregações que hoje conhecemos não estão inscritas nos nossos cromossomos. Essas subjetividades estão ligadas numa psique que, embora não tenha, poderia ter sido direcionada para vias libertadoras. Enfim, para o autor, ainda estamos muito dominados pelas antigas subjetividades, não aquelas que vieram com a revolução digital, pois continuamos controlados por dispositivos de poder e saber, o que coloca todas as inovações científicas, técnicas e artísticas a serviço das mais retrógradas figuras da socialidade.

“E, no entanto é possível conceber outras modalidades de produção subjetiva – estas processuais e singularizantes. Essas formas alternativas de reapropriação existencial e de auto valorização podem tornar-se, amanhã, a razão de viver de coletividade humanas e de indivíduos que se recusam a entregar-se à entropia mortífera, característica do período que estamos atravessando”. (Guattari, 1987:191)

Enciclopedismo nas Novas Mídias

As idéias de Guattari e de vários outros teóricos que vêem na mídia não uma potencia diabólica, mas sim uma forma de libertação do homem são muito interessantes e até inspiradoras, porém é possível criticá-las ao aproximar essas idéias dos ideais dos futuristas, que se deslumbravam com a máquina e acreditavam que o progresso resolveria todos os problemas, ou ainda por uma aproximação com as idéias iluministas e enciclopedistas.

Paulo Serra, em seu texto Informação e Sentido (1999) critica o que ele chama de teorizadores da “sociedade da informação” que, segundo ele, “tendem a olhar para os computadores (as Redes) como as máquinas da memória cuja perfeição mnemotécnica permitirá, enfim, a realização do sonho moderno de registrar, conservar e transmitir todas as memórias - garantindo, assim, a abundância do sentido”. Ele traça uma relação em seu trabalho com esses teorizadores da sociedade da informação com os Iluministas e Enciclopedistas: eles partilha[m], com os iluministas, a crença optimista de que o conhecimento tem um carácter auto-formador e emancipatório, tende[m] a pensar que mais informação leva, necessariamente, a um acréscimo de conhecimento”.

Para se contrapor aos Enciclopedistas Serra evoca Postman e Baudrillard: para eles, ao contrario, um acréscimo de informação leva a um decréscimo de conhecimento. Como Baudrillard na sua formula, "estamos num universo em que existe cada vez mais informação e cada vez menos sentido", onde a inflação de informação corresponde a uma deflação de sentido. Para Postman, segue Serra, a deflação de sentido vem da explosão de informação - que tem seu ápice na era digital com o computador, mas que começou com a prensa de Guttenberg. A quantidade astronômica de informação faz com que as verdades, os valores e as normas se multipliquem até o infinito, que nos conduz a uma desorientação existencial. Para Baudrillard o problema da deflação do sentido vem com a mudança da natureza da mídia quando ela deixa de representar o referente e passa a simular, tema que também tratou Edmond Couchot em seu texto Da Representação à Simulação.

Paulo Serra segue no seu trabalho mostrando as intenções e contradições no projeto dos enciclopedistas. Concluí um capítulo mostrando uma formula final da contradições do projeto dos Enciclopedistas: “de um lado, uma informação que mereceria ser memorizada mas que, dada a sua exponencialidade e a sua hiper-complexidade, se torna impossível memorizar (pelo menos nos termos propostos pelos Enciclopedistas); do outro lado, uma informação que, dirigida a uma curiosidade e um desejo de distracção insaciáveis, não pode deixar de ser esquecida no acto mesmo de ser absorvida. Em qualquer dos casos, impossibilidade de uma memória e de um sentido”.

A Rede funciona de modo muito parecido com a enciclopédia, a última sempre foi uma referencia, metafórica e pratica, para a primeira. Mas o autor retoma a afirmação baudrillardiana: “na Internet não há, hoje, uma biblioteca, um museu, uma enciclopédia - mas uma multiplicidade, cada vez mais confusa, desorganizada e mesmo repetitiva de bibliotecas, museus e enciclopédias (e de muitas outras coisas, como bordéis, cafés, cidades, empresas, universidades, indivíduos, etc. etc.)”[...] “Mas os instrumentos de pesquisa - por mais que o seu aperfeiçoamento consiga acompanhar o crescimento exponencial da informação que circula nas Redes - não resolve aquele que é o problema essencial [...]: o da selecção, em cada momento, entre a informação relevante (o que merece ser lembrado) e o lixo (o que deve ser esquecido)”.

Questões levantadas

Essas considerações que levanta Serra podem de fato ser aplicadas como uma critica ao Guattari? Acredito que não. Da minha leitura do texto do Guattari o que consegui entender é que ele acredita que novas máquinas que surgem trazem consigo novas subjetividades que acarretam em transformações sociais, assim foi a passagem da Idade Media para Moderna. Já Paulo Serra contesta um outro coisa: a crença de que a memória do computador, pensada como superior a do homem, vai conseguir criar mais sentido. Eu não vejo Guattari como um enciclopedista ou como alguém que acredita, assim como os futuristas, que as novas máquinas acabar com os problemas. Guatarri acredita que a subjetividade traz mudanças.

Bibliografia consultada

COUCHOT (1993), Edmond. Da representação à simulação: evolução das técnicas e das artes da figuração. André Parente (org.) Imagem máquina. São Paulo: Editora 34, 1993, pp. 37-48.

GUATTARI (1987), Felix (1987). Da produção de subjetividade. In André Parente (org.) Imagem máquina. São Paulo: Editora 34, 1993, pp. 177-191.

FOUCAULT, Michel. ....

SERRA, Paul. Informação e Sentido

MIRANDA, Luciana Lobo. .........

NEGRI (1993), Antonio. Infinitude da comunicação/finitude do desejo. In André Parente (org.) Imagem máquina. São Paulo: Editora 34, 1993, pp. 173-176.

PARENTE, André. Os paradoxos da imagem-máquina. In André Parente (org.) Imagem máquina. São Paulo: Editora 34, 1993, pp. 7-33.

QUEAU, Philippe. O tempo do virtual. In André Parente (org.) Imagem máquina. São Paulo: Editora 34, 1993, pp. 91-99.


quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Sociedade do espetáculo

Segundo Debord sociedade do espetáculo é aquela que é regida pelas aparências, pela imagem, pela ilusão e consequentemente pelos meios de comunicação de massa. A vida real é pobre, então os individuos contemplam e consomem passivamente as imagens e as representações da televisão e do cinema, que é tudo o que lhes falta na vida real.

O espetáculo é atraente, pelo fato de adaptar-se a você e aos seus desejos, fazendo com que você tenha a sensação de pertencimento às imagens.

A industria cinematografica norte-america, é um exemplo pois, produz imagens que dexam todos impressionados, mexe com o imaginário de todos, saímos do cinema acreditando na ficção, como se um dia o que vimos fosse acontecer.

E como consequência de uma sociedade massificada, acabamos não pensando sobre aquilo que estamos vendo, apenas absorvemos, sem uma reflexão crítica do olhar.

O panóptico

panóptico é a figura arquitetural ideal criada por Jeremy Bentham. Conforme ele é "uma tecnologia de poder própria para resolver os problemas da vigilância." O dispositivo é um edifício circular, no centro há uma torre, entre o meio e a circunferência há uma área intermediária. O edifício circular é dividido em celas, das quais ocupam a largura de toda a construção. Cada cela possui duas janelas, uma pro interior e outra que para o exterior, no qual deixa adentrar o ar e a luz de lado a lado. Dessa forma, colocando-se um vigia na torre central, por um efeito de contraluz, pode-se perceber as silhuetas dos prisioneiros nas celas. Segundo a análise de Michel Foucault, o princípio da masmorra é invertido. A visibilidade é uma armadilha. O panóptico organiza espaços que possam permitir ver, sem serem vistos, por isso, é uma garantia da ordem. Mais importante do que vigiar o prisioneiro o tempo todo, era que eles soubessem que estavam sendo vigiados.
Aqui, um texto sobre o significado do Panóptico segundo G. Xavier:

"Jeremy Bentham quebra os vidros opacos da frente de nossos olhos e revela o novelo de lã que é o alicerce de uma instituição social-humana. O presídio é a fonte de análise, o projeto de sustentação de seus valores enquanto presídio e enquanto aparelho funcional. O seu destinar, o seu “para quem, como?”... Da planta ao telhado, a noção de objetivar uma feitura.

Qual a significação? O valor? A forma que isso toma, qual? Um presídio é só um presídio? Quando ele muda de nome? Quando vira Casa de Inspeção? Transforma-se? Como? Para onde vai? Quem é o habitante? É o homem o habitante? É? Não? Sim? De que tipo? Tem tipo? E esse homem, vai? Quem viu? Para onde? É cimento de construção esse homem? Ou é brinquedo de quebrar? Serve? Ou gasta? Como mudar o nome desse homem? Tem como? Há jeito? Há? Como?

No Panóptico, a função básica parece ser o comunicar para descomunicar, olhos para não ver. Há uma preocupação em produzir afastamento, desligamento, incerteza, desnatureza e desinformação. A tal “inspeção” é feita para privar, reter, castrar.

Capa-se a alma do homem. Capa-se o olho. O homem fica cego...

Será mesmo novo esse método? O ordenamento das funções dentro da arquitetura do presídio deve obedecer a um conjunto de ligações, de comunicações. Os tempos modernos pediram uma revisão na forma de o homem se comunicar com o próprio homem, e também com o que a ele parece superior.

Ficou necessário vigiar.

Vigiar: subtende-se controlar. Controlar, palavra de ordem. Controlar o homem, ele próprio.

Controlar...

O Panóptico é a cadeia da alma. Prisão organizada para matar o fantasma da existência. O ver é a arma que trucida, o vigiar é o sabre que esfacela, o espiar é a mata que esconde, o ser-visto é a faca na jugular, morte sem vida, caimento dos ombros, a dor que suga pouco a pouco...

Alguma semelhança com a noção do Big Brother?"

Panóptico contemporanêo

O panóptico foi um projeto de uma prisão arquitetado por Jeremy Bethan, e tem a função de vigiar sem ser visto.

É uma torre cercada por aneis, nos aneis, região periférica, encontram-se as celas, cada cela tem duas janelas, uma voltada para o interior outra para o exterior, a luz atravessa as janelas e desta forma o vigia pode observar todos os presos sem ser obeservado por eles. Os presos, não sabem se estão ou não sendo observados a todo instante, criando auto controle, gerado pelo poder da visibilidade.

Atualmente nos também temos esse auto controle, pois o panóptico que é um modelo de prisão, foi incorporado atualmente a nossa sociedade. Temos cameras espalhadas por toda a cidade, nas casas, nas universidades, nas ruas, e da mesmas forma que os prisioneiros, nos também nÃo sabemos se tem ou não alguem nos observando.

"O Panóptico (...) deve ser compreendido como um modelo generalizável de funcionamento; uma maneira de definir as relações de poder com a vida quotidiana dos homens. Bentham sem duvida o apresenta como uma instituição particular, bem fechada em si mesma. muitas vezes se fez dele uma utopia do encarceramento perfeito."

Foucault, (1997)

Meio: Corpo

A entrada na Modernidade, a partir do século XV, ocasiona uma transformação que não é pouco severa ao se dirigir ao corpo. De constituinte fundamental do ser humano, ele passa a suporte de algo que lhe é extremamente superior e valioso: a capacidade de pensar, cujo abrigo se encontraria na mente.
Com a sentença “penso, logo existo”, proferida por Descartes, o corpo cósmico cede lugar a uma noção de corpo enquanto matéria que serve a uma mente. Um corpo fechado, acabado, entendido como máquina (em sua lógica de funcionamento), que não traz em si quaisquer representações que o conectassem ao mundo, assim a morte e a vida passam a ser vistas separadamente, como início e fim; perde-se a qualidade de eterno retorno do mundo cósmico.
Situar o corpo como mero receptáculo da mente traz implicações capazes de promover uma reorganização da sociedade, deixando para trás a aceitação de um sistema feudal, baseado em castas, cuja mobilidade era mínima, para adentrar em uma sociedade burguesa que iria valorizar aqueles cuja capacidade de raciocinar, aplicada aos negócios, fizessem-nos destacar.
O corpo, a partir deste contexto, não é um objeto atural apenas, mas sim, um valor produzido por características culturais e físicas. É através desta concepção de corpo, capaz de adquirir valor dependente da cultura em que se encontra, sustentada na proposta de divisão corpo e mente da Modernidade,que foram possíveis os entendimentos sobre o corpo como um manequim e o corpo máquina.
As vestimentas, são capazes de definir os corpos no ambiente público. É no século XVIII que o corpo aparece como um artifício localizador e posicionador de status social. O corpo público, aquele exibido nas ruas das cidades européias, torna-se um manequim, no sentido de um corpo-suporte, pois as roupas adquirem a função de sinalizadoras de ofício (a vestimenta de um artesão
difere-se da de um advogado), inclusive com leis que proibíam, na França e Inglaterra, que indivíduos se vestissem com roupas que não pertencessem aos seus estratos. As roupas seriam, neste contexto, responsáveis pela definição de uma ordem social.
No ambiente privado, as pessoas, em especial a burguesia, podiam se vestir de acordo com as necessidades de seu corpo e de suas vontades, entretanto nas ruas era imprescindível observar as regras a fim de que fosse possível ser reconhecido e identificado imediatamente por qualquer passante. A desobediência ao sistema de vestimentas permitido a cada classe, quando percebida, ocasionava a ridicularização daqueles que queriam se passar por pertencentes a uma classe
superior à qual realmente se encontravam.

As Teorias de Vida Cotidiana e Genérica

Segundo Agnes Heller, na estrutura da vida cotidiana, o homem já nasce inserido na vida cotidiana, sendo esta, a vida do homem inteiro, ou seja, de todo homem, pois a todos a vivem, sem nenhuma exceção. Ninguém consegue desligar-se inteiramente dela e nem vivê-la intensamente.O homem participa da cotidianidade em todos os aspectos de sua área individualmente, de sua personalidade, colocando em funcionamento todos os seus sentidos, capacidades intelectuais, habilidades, paixões, sentimentos, idéias, etc.A vida cotidiana é, em grande parte, heterogênea, mas igualmente hierárquica. A heterogeneidade é imprescindível para conseguir uma previsão normal da produção e da reprodução da cotidianidade, e o funcionamento rotineiro da hierarquia espontânea é igualmente necessário para que as esferas heterogêneas se mantenham em movimento simultâneo.
A vida cotidiana é a verdadeira essência da substancia social, é a vida do indivíduo, sendo este ao mesmo tempo, um ser particular e um ser genérico, e isso, em sentido natural não o distingue de nenhum outro ser vivo. A particularidade, no caso do homem, expressa não apenas um ser isolado, mas também um ser individual, em que um homem jamais poderá representar ou expressar a essência da humanidade, sendo a unicidade e a inelegibilidade, fatos fundamentais que caracterizam essa particularidade social. O desenvolvimento do indivíduo, é antes de mais nada, função de suas possibilidades de liberdade, pois ninguém é igual a ninguém, ou seja, somos diferentes uns dos outros, temos diferentes personalidades, pensamentos, idéias, etc. O fato de se nascer já lançado na cotidianidade continua significando que os homens assumem como dadas as funções da vida cotidiana e as exercem paralelamente. Em particular, o indivíduo sugeriu a ética como uma necessidade da comunidade social. A ética como motivação (moral) é algo individual, mas não particular; é individual no sentido de ter, mas a liberdade de escolha adotada por nós diante da vida, da sociedade e dos homens. Não podemos analisar a questão da diferença entre esses afetos, pois a confiança é um afeto do indivíduo inteiro e mais acessível à experiência, a moral e a teoria do que a fé, que se fixa sempre no individual, particular. Cada uma de nossas atividades cotidianas faz-se acompanhar por certa fé ou uma certa confiança. Se o afeto confiança adere a um juízo provisório não representa nenhum preconceito o fato de se ter é o caso dos preconceitos, pois é característico da vida cotidiana esse manuseio grosseiro. Não há vida cotidiana sem imitações, jamais procedemos seguindo os preceitos, mas imitamos os outros.

Olhar

A língua portuguesa tem um verbo específico para conjugar o foco da visão: olhar. Diferentemente de outras línguas latinas, como o espanhol (mirar), o italiano (guardare) e o francês (regarder), que têm, respectivamente, sentidos como mirar e guardar algo, o português têm, nessa palavra, a raiz orgânica, o olho.

Ao lançar um olhar sobre algo, estamos colocando um sentido particular a uma situação ou a um objeto. Isso tem sido muito usado na atualidade não só para demonstrar visões diferentes, mas para manipular informações. Esse fenômeno ocorre muito em campanhas políticas que são, em última análise, campanhas de marketing. Um interesse pode ser defendido através de um olhar.

Mikhail e sua Filosofia

Enxergar a linguagem como um constante processo de interação mediado pelo diálogo - e não apenas como um sistema autônomo foi algo muito inovador da parte de Bakhtin.. "A língua materna, seu vocabulário e sua estrutura gramatical, não conhecemos por meio de dicionários ou manuais de gramática, mas graças aos enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos na comunicação efetiva com as pessoas que nos rodeiam".
Segundo essa concepção, a língua só existe em função do uso que locutores (quem fala ou escreve) e interlocutores (quem lê ou escuta) fazem dela em situações de comunicação. O ensinar, o aprender e o empregar a linguagem passam necessariamente pelo sujeito, o agente das relações sociais e o responsável pela composição e pelo estilo dos discursos. Esse sujeito se vale do conhecimento de enunciados anteriores para formular suas falas e redigir seus textos.
Nessa relação dialógica entre locutor e interlocutor no meio social, em que o verbal e o não-verbal influenciam de maneira determinante a construção dos enunciados, outro dado ganhou contornos de tese: a interação por meio da linguagem se dá num contexto em que todos participam em condição de igualdade. Aquele que enuncia seleciona palavras apropriadas para formular uma mensagem compreensível para seus destinatários. Por outro lado, o interlocutor interpreta e responde com postura ativa àquele enunciado, internamente (por meio de seus pensamentos) ou externamente (por meio de um novo enunciado oral ou escrito).

Do Panóptico ao Orkut

Quando George Orwell escreveu 1984, ele previu uma sociedade sob um regime totalitário, onde a principal forma de controle eram as câmeras de vídeo. Assim como o Panoptico de Berthan, a capacidade de um olho que tudo vê, capaz de observar as pessoas, seus atos, seus discursos e suas vidas cotidianas, faz com que elas não tenham coragem de exercer atividades contrárias ao Estado.
Apesar de vivermos em um regime capitalista liberal, nos encontramos em uma sociedade vigiada. Para onde formos há uma câmera nos filmando: lojas, bancos, postos de gasolina, elevadores, condomínios, avenidas, nossas próprias casas. Porém, esses objetos de vigília não nos foram impostos, nosso próprio medo fez com que os adotemos.
No entanto, não parecemos tão preocupados com isso. Nós não trocamos, apenas, nossa liberdade pela falsa impressão de segurança. Nossa condição de observados virou fetiche. Os programas com maior ibope na televisão são os reallity shows (que pipocam nos canais abertos e pagos).
Mas a televisão, sempre defasada em comparação com a Internet, em nenhum momento imaginou o surgimento de redes sociais como o Orkut (nada mais que uma vitrine pessoal 24 horas por dia) ou o youtube (onde podemos contribuir com nossos vigilantes enviando nossos próprios vídeos), entre tantas outras.
O voyerismo do espectador de cinema transformou-se em escopofilia nas novas mídias. E o Estado perdeu seu papel de vigia para empresas privadas como o Google, que tem acesso a bilhões de dados particulares (como perfis do orkut, contas de email, o que seus usuários procuram nas ferramentas de busca, etc).
Por fim, até a visão começa a perder seu caráter dominador, pois a imagem começa a ser substituída pelos dados, como meio de controle.

Mídia e Democracia

“O Paleolhar da Televisão” de Décio Pignatari é um dos melhores textos sobre o assunto que já li. Ao mesmo tempo técnico e poético, esse pequeno artigo tem observações inspiradas. Já no primeiro parágrafo, Pignatari define a TV de um modo interessante: “caverna platônica às avessas: o mundo entra casa a dentro e projeta nas paredes as sombras dos cavernícolas mesmerizados”.
Nem tão original, mas igualmente precisa, é a comparação entre a televisão e um narcótico. Para o autor, apesar da TV não ser tão apaixonante quanto outras mídias (como o cinema ou os quadrinhos) ela é viciante.
Heroína e vilã, a televisão é defendida por muitos como a mídia que garantiu a integração nacional e o acesso de informação e conhecimento para milhões de brasileiros. Porém, é apontada, por outros, como canal de emburrecimento popular, devido a sua superficialidade e parcialidade. Mas Décio vai ainda mais longe em sua crítica, ele chega a afirmar que essa mídia audiovisual garante o analfabetismo, que é muito cômodo para as elites brasileiras.
Essa é a segunda vez que leio este mesmo texto. Da primeira vez, ao deparar-me com a questão da democracia e da política versus televisão, concluí rapidamente que a melhor alternativa a isso eram as mídias digitais. A interatividade será capaz de democratizar os meios, pensava eu.
Agora, ao pensar na dependência que as redes sociais geram em algumas pessoas, em como as opiniões dissonantes são marginalizadas nos fóruns de discussão e como a blogoesfera é ainda incapaz de criar debates consistentes, fico a me indagar se as novas mídias não são apenas televisões-metidas-à-besta ou se não desenvolveram seu potencial democrático ainda. Talvez, quem sabe, o problema não esteja nos meios de comunicação e sim na nossa cultura.

O Impacto da Globalização

A globalização é um processo caracterizado por uma enorme perversidade e que tem como condições fundamentais, o espaço geográfico e a tecnociência. São estas as condições básicas para a globalização: a geografia do mundo e o desenvolvimento técnico-científico e informacional. Como tal, a globalização não se encerra no problema de conhecimento do mercado e da economia, mas no conhecimento do mundo, cuja existência se descola da economia e se conecta diretamente no espaço geográfico, isto é, com as pessoas e com o território, elementos que são abandonados pelo processo de globalização mas impostos pelo processo de fragmentação. Nos lugares, pessoas e territórios se fazem presentes na sua luta cotidiana contra o massacre da globalização.
Desemprego é uma das conseqüências perversas da natureza desse processo de globalização que, tal como vem sendo assumido e compreendido, ignorando as pessoas e os territórios, os quais são diluídos nas abstrações, embora quantitativas, dos chamados planos econômicos.
Mas, é importante destacar que as pessoas e os territórios se fazem sentir, violentamente, através do processo de fragmentação visível, seja na Bósnia, Sarajevo, seja na criação de novos territórios, por vezes sob forma violenta cidade de São Paulo. É preciso estar também atento ao fragmento, aos lugares.
Os problemas contemporâneos, e especialmente o da pobreza e do desemprego, encontrarão solução no âmbito da política e da ética. Trata-se da construção de um mundo novo, pautado não no discurso perfeito, que caracteriza as análises e ações sobre a realidade nesta contemporaneidade, mas numa perspectiva de ação colada na realidade do mundo, constituída por uma maioria de pobres e desempregados. Neste mundo, a economia passa a ser coadjuvante.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O esclarecimento segundo Kant

Para Kant, o esclarecimento é aquilo que objetivavam os iluministas, ou seja, iluminar-se, pôr-se à luz da razão. Mas isso não se restringe apenas a conhecer e entender, na teoria kantiana o esclarecimento é uma condição moral em que o cidadão alia seu profundo conhecimento em determinado assunto a uma autonomia crítica sobre tal.

De acordo com o filósofo, todos podem alcançar o esclarecimento se possuírem liberdade. Porém, esse não é o único fator determinante para esclarecer-se, é preciso vontade, empenho e coragem. Muitos não desenvolvem esta condição moral por medo, covardia ou comodismo, uns até possuem condições intelectuais para se tornarem esclarecidos, mas não o fazem por temor a retaliações de autoridades ou instituições. Esses vivem na menoridade, termo utilizado por Kant para designar imaturidade e dependência, auto-imposta.

Apenas possuir o amplo conhecimento sobre um assunto específico não é suficiente para alcançar o esclarecimento, a autonomia é também imprescindível. O conhecimento é somente a primeira etapa, deve-se depois assumir uma postura crítica sobre esse conhecimento. E essa crítica deve ser feita através do uso público da razão, ou seja, deixando de lado interesses particulares e priorizando o benefício do próximo. Logo, o esclarecimento consiste em comprometer-se moralmente com a sociedade da qual se faz parte procurando aperfeiçoá-la constantemente.

VIda cotidiana

Todas as sociedades tem uma maneira própria de se organizar. Essa organização vai definindo os padrões a serem seguidos pelos integrantes desses grupos sociais. Esses padroes são os pilares em que os costumes da sociedade são fundamentados e sÃo responsáveis pela definição dos conceitos de certo, errado, belo, feio, moral, éticoetc. É a partir deles que são criadas as leis, movimentos sociais, a arte e as ações diarias das pessoas.
O conjunto dessas ações é o que chamamos de vida cotidiana. Todo homem nasce inserido em uma vida cotidiana e é impossivél viver for a dela. Em qualquer nos mantemos dentro dessa cotidianiedade por meio das ferramentas que recebemos e que são necessárias para nos inserir nas formas de organizão social, de acordo comos papéis que nos são atribuídos. Temos papépis na família (filho, irmão, pai, mão, avó, neto), no trabalho ( empregados, patrões) na vida acadêmica (professor, aluno), enfim, em todas as relações.
Com o passar do tempo os padrões se tornam hábitos pessoais, que as ações causadas a partir deles passam a ser cada vez menos refletidas. Agimos por espontaniedade e generalização, pensando sempre em obter resultados favoráveis sem a existencia de reflexão sobre a ação. E a vida cotidiana acaba sendo vista como lugar de exploração, dominação e alienação.
Ao exercício de refexão sobre nossas ações cotidianas, ações comuns a todos os homens, como o trabalho, pode se dar a vida genérica.
Todos os indivíduos realizam algum tipo de trabalho, porque é assim que a vida cotidiana é gerada, o trabalho torna-se uma atividade humano-genérica, comum a todos os homens, porém, cada indivíduo tem motivações partiulares que dirigem ao seu trabalho para satisfação de necessidades indivíduais. Se não houver essa idealiazação de um objeto a ser atingido a partir de sua realização, o trabalho perde o sentido enquanto atividade humano-genérica e assim, dá-se ao processo de alienação, em que se cria um abismo entre a produção comum ao gênero humano e a consciência na participação da produção.
Essa idealização é o que conehcemos por mito do trabalho, que geralmente trasmite os ideais que os empregadores desejam que os seus trabalhadores assimilem como padrões de comportamento, para manter a vida cotidiana voltada a produção. O trabalho passa a ser visto como meio de obtenção do conforto material.

O olhar e o vigiar

A sociedade justa pela qual os revolucionários franceses lutavam e que teria na liberdade, igualdade e fraternidade seus princípios condutores e imprescindíveis, deveria ser uma sociedade transparente, que não impusesse barreiras ao olhar do cidadão; ao contrário, deveria proporcioná-lo uma visão plena de sua estrutura e funcionamento.

Para iluminar a visão dos cidadãos e livrá-los do obscurantismo, a luz da razão e da justiça tinha que ser incorporada aos seus olhares, afastando-os assim da ignorância, de superstições equivocadas e da mentira  de déspotas. Somente com a presença dessa luz, poderíamos enxergar realmente, sendo que este olhar correto das coisas é o que se vê com alma e não com os olhos, como diz Descartes. Isso porque nem a percepção dos sentidos, nem a imaginação reconhecem o verdadeiro, mas sim a razão.

Descartes não ignora o conhecimento sensível, mas acredita que este esteja subordinado à razão. Só se percebe, só se sente algo porque conhece sua essência. A verdade está na essência, assim como a luz para o nosso olhar.

No final do século XVIII, o olhar toma o lugar da luz e passa, então a iluminar as coisas. Agora é o olhar do sujeito que transforma os demais (sujeitos, instituições) em objetos de observação  e os analisa minuciosamente. Esse olhar examinador promoveu grandes mudanças institucionais à época. Atento a minúcias e conferindo relevância a detalhes que para leigos pareciam banais, esse olhar analítico foi transformador. Os hospitais, por exemplo, que antes eram locais de morte, foram analisados, dissecados e a partir do novo olhar os motivos que tornavam tais lugares centros de morte e sofrimento foram detectados e solucionados. Através de uma visão total do ambiente hospitalar, engendrou-se uma nova política racional dos espaços. E nessa política, Foucault encontra uma grave ameaça aos anseios iluministas: esta mesma visibilidade que tornou os hospitais locais de cura e salvação poderia ser utilizada para fins escusos, venais, despóticos.

De fato este sistema foi utilizado para diferentes fins, desde o panoptikon, projeto arquitetônico desenvolvido por Jeremy Bentham utlizado em prisões que permitia ao vigia observar, posto numa torre central, todos os detentos sem ser visto. O panoptikon  induzia os presos a uma postura disciplinada, a uma auto-consciência de seus atos e as possíveis consequências dos mesmos, isso porque eles eram vigiados constantemente, ou pelo menos acreditavam na vigilância ininterrupta.

Séculos depois, não é um absurdo dizer que vivemos numa sociedade panóptica. As construções arquitetônicas não seguem necessariamente o projeto de Bentham, mas câmeras espalhadas por todas as partes cumprem a função e subtraem a imprescindibilidade de prédios como o panoptikon. Somos vigiados sem jamais sabermos quem nos vigia.

Pan-óptico - A arte de olhar sem ser visto

No decorrer dos anos, civilizações buscaram sempre uma maneira eficiente de "vigiar e punir", seja seus habitantes como forma de demonstrar um poder superior, ou para controlar prisioneiros em suas celas. Várias tentativas fizeram com que o homem sempre buscasse a maenira mais eficiente do que a então atual, para manter o olhar me uma maneira cada vez mais superior ao do vigiado.

A solução veio com a idéia de um filósofo ingles, Jeremy Bentham. Ele desenhou um sistema em que uma torre ficava localizada no centro do local em que se desejava observar (o centro de uma prisão por exemplo) e o observador localizado, ou não, dentro dessa torre, pudesse vigiar qualquer um, sem ser visto, mantendo sempre a pressão no observado, deixando ele na duvida constante se era ou não controlado por alguem.

Esse conceito deu origem a milhares de projetos e construções envolvendo o mesmo objetivo, de certa forma, vigiar e/ou punir.
A estrutura de um colégio por exemplo esta em torno da questão que o aluno esta sendo constantemente observado, ou pelo menos, que ele tenha essa sensação, mantendo sempre o controle e a "ordem" perante os presentes.

Indo além de construções, vemos em lojas o posicionamento de espelhos relativamente grandes que, em um determinado local, faz com que o dono da loja, ou até mesmo um vendedor, possa controlar o que os clientes fazem sem ser notado, mantendo assim uma forma de controle, mesmo se naquele momento ninguem esteja acompanhando suas ações.

O olhar como forma de controle

Durante muito tempo a idéia de olhar esteve ligada à idéia de conhecimento. O iluminismo foi a época das luzes, e, portanto do conhecimento. Ao contrário da Idade Média, considerada durante muito tempo como “Idade das Trevas”, por ser teoricamente um período sem grandes avanços científicos ou filosóficos.
Pode-se relacionar a idéia de Luz no iluminismo com a idéia de Descartes, que pensava a luz como elemento que possibilitava a visão dos objetos. A luz estaria para os olhos, como o bastão está para o cego. Para os iluministas o olhar/ver seria assim uma forma de libertação, libertação através do conhecimento.Bentham, e mais tarde Foucault perceberam que o “olhar” pode ser uma forma de controle, e mesmo de aprisionamento. Um exemplo disso é o “panóptico”: uma espécie de prisão na qual o guarda com o posto mais alto hierarquicamente vê tudo sem ser visto, os outros guardas vêm os presos e são vistos pelos seus superiores, os presos são vistos sem ver ninguém. Usa-se a luz como forma de aprisionamento, o prisioneiro por estar em um lugar iluminado é visto, mas não vê os guardas, embora saiba que eles estão, ou deveriam estar lá. Isso nos leva a outro pensamento: o panóptico mantém os observados em estado de alerta, embora não tenham certeza se estão realmente sendo observados. Pode-se relacionar essa idéia à atitude das pessoas em espaços públicos que são filmados: ao saberem que estão sendo filmadas as pessoas deixam de fazer coisas que poderiam fazer se soubessem que não estão sendo vistas. A noção de privacidade, ou espaço privado nos dias de hoje está quase deixando de existir. Além disso, deve-se se considerar que o uso de câmeras vigilância em excesso, ou seja, se praticamente toda a cidade for filmada, isso se torna um mecanismo de controle fortíssimo, que pode ser usado por exemplo, por sistemas totalitários.

O controle pelo prazer. Ou pela dor.

Jeremy Bentham acreditava que o ser humano era guiado por basicamente dois sentimentos: o sofrimento, e a dor. Um seria o oposto do outro, como o frio é o oposto do calor, e em quantidades iguais eles se anulam. Bentham era de uma corrente chamada utilitarista: teoria ética que procurou responder questões a respeito de como viver, do que fazer e etc. buscando maximizar a produtividade e conseqüentemente a felicidade.
Bentham tentou quantificar o sofrimento e o prazer, acreditando ser possível controlar a sociedade ao controlar a sensação das pessoas. Um exemplo de utilização do sofrimento é a tortura de presos: ao interrogar várias pessoas, basta torturar a primeira, de forma que as outras escutem os gritos. Elas ficarão tão aterrorizadas que falarão sem grande resistência. Um exemplo do caráter utilitarista do pensamento de Bentham é o fato de que apesar de ser a favor da tortura quando necessária, ele era contra mutilações: tremendo desperdício de força de trabalho. Além do fato de que o governo teria que sustentar o inválido: desperdício de dinheiro. Outra característica do pensamento utilitarista é o fato de que o preço de um produto, segundo essa doutrina, deve ser calculado de acordo com a utilidade do mesmo para determinada pessoa, ao contrário de Marx que pensava o preço pelo tempo de trabalho gasto para produzir de cada produto.
O pensamento do século XIX era majoritariamente utilitarista. Foi o tempo da sociedade do trabalho, um tipo de pensamento que perdurou até o final do século XX. O homem da sociedade do trabalho fazia planos à longo prazo, o prazer era freqüentemente adiado, por motivos religiosos, ideológicos e morais. Esse modelo de sociedade pode ser considerado “da dor”.Na sociedade de consumo, que tem como principal característica o hedonismo, busca incessante por prazeres efêmeros, o controle é exercido através do prazer. Uma característica interessante desse tipo de sociedade é o fato de que para aceita-la basta consumir. Não importa se você é a favor ou contra esse sistema. Consumindo você o valida e o perpetua, independente de sua ideologia.

O Espectador Observado!

O conceito de olhar, assistir, observar, vem sendo questionado e até mesmo reformulado, pela sociedade no geral. Cada um tem uma idéia do que é o "espiar". Na região sul do Brasil, por exemplo, não se diz vou "assistir a um filme", mas sim vou "olhar um filme", prova de que o conceito do olho tem um significado diferente, ou apenas mais profundo do que é comum a todos.

Acredita-se que hoje o observador, ou o "espião" não mais quele que esta no controle, por assim dizer. Não ele que ve sem ser visto, mas na verdade o oposto acontece, ele é observado sem saber disso, invertendo o conceito do olhar onde, neste caso, o espião vira o "espiado".

O mesmo acontece na televisão. Com programas como Big Brother, o espectador pensa estar no controle daqueles participantes presos naquela casa, sempre observando sem ser observado. Mas de acordo com Decio Pignatari, o que acontece na verdade é o observador, que está alheio aquele programa, é quem realmente é observado, medido e até mesmo controlado. Ele acredita que quem realmente "espia" é o quem está por tras do olhar. O olhar é capaz de tar sentido a qualquer coisa, por isso existe o conceito do Olhar X Olhar, ou seja, a capacidade desse olhar de dar sentido ao que é apresentado a ele, como nesse caso, o que é apresntado pela TV.

Por isso quem observa e acompanha é na verdade a imagem projetada e vista pelo espectador, O controlando através do seu próprio olhar, capaz de dar sentido aquilo que é representado pela televisão.

As crises mundiais e a globalização.

Em 1929 tivermos Taxa Desemprego 0, distribuição de renda para os pobres, diminuição de impostos e a organização do Estado. Inicia-se também a Teoria da Dependência ou Interdependência que prevaleceu ate 1973,ano em que a biotecnologia substitui a ''natureza'', divida externa, automação, informatização, desemprego, globalização (Com a globalização obtivermos a queda nos custos energéticos, a internacionalização do capital, a utilização de satélites, e o desenvolvimento da micro - eletrônica, e novas tecnologias no setor de Comunicação e Transporte.) Industria de Sintéticos, Créditos e o Mercado de Ações.
Em 2007 Os Estados Unidos emprestaram mais dinheiro do que existia no mundo;ocorreu uma crise devido ao excesso de credito.Nosso país não sofre tanto com a crise porque só exporta 15%, porem o mercado se torna cada vez mais competitivo;os europeus saem de seu continente para busca de empregos nos paises emergentes, como o Brasil.
Para contornar isto, devemos começar a fazer uma nova leitura do espaço geográfico - histórico, informecial, sistema técnico e psicotécnico.
Hoje somos limitadores de nossos corpos devido ao avanço das tecnologias e os objetos devido à sociedade de consumo passam a ser ideológicos.

Corpolatria

Na sociedade pós-moderna, a indústria da beleza e a mídia influenciaram o olhar sobre o corpo e o imaginário coletivo, estabelecendo padrões estéticos. Surgiram estereótipos e idealizações, dando espaço à corpolatria, ou seja, a cultura do culto ao corpo, especificamente na obsessão da aparência física, ignorando a própria saúde.

A corpolatria incentiva o consumo excessivo de serviços e produtos de beleza, com o intuito de alcançar um corpo ideal e atraente. Esse mercado de beleza é divulgado pela mídia, que utiliza a atração física como um recurso de persuasão para elevar a quantidade de consumidores.

O corpo pós-moderno é um corpo esvaziado, sem órgão, e midiático. Tornou-se um instrumento social e cultural para moldar características e criar identidades e estilos. Também um meio para estabelecer relações socias, gerando vínculos entre grupos distintos de pessoas com o surgimento do fenômeno da tribalização.

Portanto, a obsessão pelo corpo não só influenciou na idealização da aparência física, mas também no comportamento, nos hábitos e no modo de pensar e agir dos indivíduos, conforme as tendências.

Sociedade do Espetáculo

Entre as décadas de 60 e 70 houve a transição da sociedade de trabalho para a sociedade de consumo, que pode denominar-se Sociedade do Espetáculo. O desenvolvimento tecnológico ocorreu de forma grandiosa a partir da revolução industrial, no século XVIII, com o surgimento da eletricidade, do motor à explosão, da química orgânica etc; possibilitou a difusão da comunicação entre os povos.
A partir da segunda metade do século XX, observa-se uma intensificação do desenvolvimento tecnológico, no qual surgiu e conduziu ao surgimento da sociedade tecnológica. Tal sociedade caracteriza-se, sobretudo, pelo processo de geração de conhecimentos, de processamento de informação e de comunicação de símbolos.
Além disso, a sociedade tecnológica tem como característica marcante, a velocidade na troca de informações. Tal fato faz com que, por exemplo, o capital especulativo seja gerenciado vinte quatro horas por dia, ou seja, as transações financeiras ocorrem em tempo real. Tudo isso só é possível em função das novas tecnologias de comunicação e informação.
As conseqüências da nova organização do capitalismo no cotidiano da humanidade são as mais variadas. Dentre elas, pode-se citar o controle massificado das mentes que se dá fundamentalmente por intermédio dos meios de comunicação, mais especificamente, a televisão. Tudo isto é citado e analisado por Guy Debord no livro Sociedade do Espetáculo.
O espetáculo é a própria sociedade, e torna-se o principal instrumento de unificação social; por meio da imagem se cria a realidade e essa realidade construída realiza a unidade da vida. Isso fica evidenciado na seguinte afirmação de Debord: “O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens.”

Diogo Ribeiro

Globalização

O capitalismo tem gerado desigualdades entre as localidades de uma mesma região ou país. Elas se explicam pela tendência do capital em se concentrar em localidades e regiões que reúnam as melhores condições para maximizar seus lucros. Essas localidades e regiões que disponham de melhores condições em termos de recursos humanos, recursos naturais, mercados, infra-estrutura econômica e social e redes de empresas que se articulem entre si como supridoras de matérias-primas ou insumos ou demandadoras de matérias-primas e produtos intermediários ou acabados são as mais credenciadas a fazerem parte do circuito de acumulação de capital.

Há uma tendência dos investidores em implantar empreendimentos em localidades ou regiões que apresentem, portanto, maiores economias de
aglomeração.

Não há dúvidas de que o processo de globalização que se registra na atualidade tem contribuído para agravar ainda mais as desigualdades em todos os níveis, econômicos e sociais, regionais, nacionais e internacionais. Ao invés de levar benefícios econômicos para todo a população, a globalização tem levado o planeta à proximidade da catástrofe ambiental, convulsão social sem precedentes, desestruturação das economias de muitos países, aumento da pobreza, da fome, dos sem terra, da migração e do deslocamento social.

Michel Foucaul e o Panóptico

Em seu livro Vigiar e Punir Michel Foucaul faz uma análise da “sociedade disciplinar”, termo que ele usa para denominar a sociedade no século XIX que estava sofrendo fortes transformações, principalmente na maneira de exercer o poder, no qual ele defende que é mais eficaz vigiar do que punir. Sugerindo uma verticalização da vigilância, de forma a expor ao máximo o vigiado.

O terceiro capítulo do livro é dedicado a uma análise do Panoptico de Jeremy Bentham. A arquitetura do panóptico, idealizado pelo filósofo utilitarista, consiste em uma construção onde a parte externa é em forma de anel; no centro uma torre; a região periférica é dividida em celas individuais que contem duas janelas, uma que daria para o exterior e outra para a parte interior que vai de encontro com a torre. A disposição das janelas permite que a luz atravesse a cela de lado a lado fazendo com que o prisioneiro possa ser visto por um vigilante que esta na torre, que não pode ser visto pelos prisioneiros.


O panóptico é uma maquina arquitetônica de efeito imediato, no qual o poder é exercido totalmente pela visibilidade; o sujeito se sabendo observado cria um autocontrole. O projeto foi pensado, inicialmente, para uma prisão, mas com o passar do tempo o ele foi incorporado por inúmeras instituições. Hoje esse esquema de vigilância invadiu nosso cotidiano, somos observados e controlados em tempo integral.

Projetando o corpo

O conceito que temos hoje do corpo como um acessório, um suporte midiático possui uma tradição de pensamento que o originou. De modo geral, o corpo quase sempre foi visto de uma forma mecânica, seja na filosofia ou na medicina.

Platão separava o corpo em três partes: a alma, a razão e a pulsão, sendo que esta última devia ser controlada e que deveríamos ser comandados pelos dois primeiros. Também na Idade Média era feita uma divisão entre corpo e alma e, mais uma vez, o corpo era considerado inferior ao espírito.

O corpo não ganha hoje melhor status, virando então ferramenta. Ele é projetado de forma a ser do modo que se deseja, adicionando e retirando partes, como um avatar.

Panoptikon

O panoptikon é um projeto arquitetônico criado por Jeremy Bentham, que nasceu em Londres, 1748 e que acreditava que os dois princípios que governam o comportamento humano e da sociedade são a busca do prazer e a repulsa à dor. Sua preocupação era canalizar as pulsões humanas para aumentar a produtividade.

O panoptikon poderia funcionar em diversas instituições, contato que fossem feitos algumas modificações (apesar de seu lugar de teste escolhido ter sido a prisão). Outra vantagem é que este era um projeto de baixo custo e grande eficiência.

Ele era constituído de um edifício em forma de anel, localizado na periferia, e de uma torre, localizada no centro. A torre deveria ter grandes janelas cobertas por persianas, que se abririam para o interior do anel. O círculo seria dividido em células que ocupariam toda a sua espessura e disporiam de duas janelas (uma aberta para o interior e outra para o exterior). Dessa forma, se tem plena visibilidade das células a partir da torre. Por fim, um vigilante é posto na torre e os prisioneiros são colocados no interior das células.

O controle é feito não pela presença e vigilância reais feitas da torre, mas de sua possibilidade. Com medo de ser repreendidos, os prisioneiros se auto-controlariam, e para isso somente a estrutura e um guarda bastariam, ou nem seria necessário ter um vigilante, pois simplesmente seria necessário que os vigiados o imaginassem.

Hoje somos vigiados à todo momento por câmeras de vídeo, que nem ao menos sabemos se estão em funcionamento, mas, assim como o guarda da torre, que não se sabe se vigia ou não, o controle acontece por conta de nossa dúvida.

Globalização

A possibilidade de realizar negociações sem limites de espaço e tempo possibilitou o processo de globalização, que nada mais é do que a desmantelação da economia baseada em nações, para a criação de um sistema baseado em uma economia global.

Nele, surgem é possível libertar as empresas de necessitarem se fixar em um só Estado, podendo dissolver funções produtivas, localizando cada parte do processo de fabricação de seu produto na parte do globo que lhe for mais conveniente e vantajoso.

O processo de globalização possui conseqüências alarmantes, como a perda do poder do Estado, a desativação ou privatização de empresas estatais (que não conseguem concorrer com as multinacionais) e o aumento das diferenças sociais.

Apesar de causar vários problemas às economias nacionais, a globalização ainda depende desta, pois necessita dos recursos do Estado para que sua infra-estrutura funcional (locais de exportação e importação, como portos, aeroportos, por exemplo) possa existir. Mas como isso seria possível se a nova economia enfraquece a antiga?

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Cotidiano

Segundo Agnes Heller,a vida cotidiana é heterogênea;e sob vários aspectos ,sobretudo no que se refere a conteúdo e a significação ou importância de nossos tipos de atividade,partes orgânicasdesta :organização do trabalho e da vida privada,os lazeres e o descanso,a atividade socialsistematizada,o intercâmbio e a purificação.Mas a vida cotidiana não é  apenas heterogênea,mas igualmente hierárquica.

 Na vida cotidiana ,o homem atua sobre a base da probabilidade,da possibilidade:entre suasatividades e as consequências delas,existe uma relação objetiva da probabilidade.Jamais, na vidacotiadiana,é possível calcular a consequência de uma açao.

O pré-conceito é base do cotidiano, mas para que algo seja conceitualizado ocorre uma generalização. E, quando há determinação, o homem se liberta por meio de suas ações.