Como já disse no texto anterior sobre a indústria cultural de Adorno, que seguia um método fordista de produção, essa indústria respondia a “anseios” de uma sociedade que era vista como uma massa homogênea, onde as relações eram feitas em um sistema de um para muitos.
Esta organização social que durou boa parte do século XX (até meados dos anos 90), ainda era muito ligada a laços sociais, desde os mais básicos como a família até classes sociais. Assim as pessoas eram cada vez mais ligadas a valores comuns, que tinham uma relação política e ética entre si.
Porém a partir da metade do século XX, algumas alterações comportamentais viriam a culminar na Paris de maio de 68. Entre essas primeiras mudanças podemos citar a música, que a partir do final dos anos 50 teve uma cisão entre pais e filhos, ou seja, com o surgimento do “rock” temos uma das primeiras manifestações onde o jovem já não queria mais escutar as mesmas coisas que seus pais. Isso levaria a uma nova ordem social onde cada vez mais se procurava a “liberdade”, liberdade essa que, alguns teóricos já preconizavam, entre eles Guy Debord, e estava ligada a uma liberação para o consumo, onde o que se procurava era um espaço onde o “homem” (jovem naquele tempo) pudesse usar drogas, música, roupas que quisesse e tivesse o comportamento que desejasse.
Essa sociedade de consumo que surgiu, e que hoje pode ser entendia como a pós-modernidade, mudou totalmente o modo de produção e relação que temos hoje em dia. Hoje saímos do fordismo e chegamos ao toyotismo onde a produção já não enxerga a sociedade como uma massa rígida, que tem apenas os mesmos anseios e que aceita tudo que lhe oferecem. Isso significa que hoje existe flexibilização da produção que faz com que as coisas sejam produzidas visando a pequenos grupos, que são diferentes dos outros e que trazem consigo a idéias de algo “livre” e único.
Um bom exemplo são as revistas, que décadas atrás eram feitas para atingir diversos “grupos” que assim teriam que se adequar a um mesmo produto. Hoje, diferentemente, temos uma infinidade de ofertas de revistas que servem para segmentos específicos dentro de um mesmo grupo. Por exemplo, existem revistas abordando os mais diversos temas, voltadas para o público feminino, porém segmentadas por nichos de idades, classes sociais, profissões, etc.
Assim a pós-modernidade é formada a partir de relações tribais - o autor Michel Maffesoli alerta para o fato de que cada vez mais a sociedade é composta de grupos onde seus indivíduos se sociabilizam preferencialmente entre si, criando uma identidade única que representa este grupo.
Como cada vez mais a sociedade está ligada ao campo das aparências (corporeísmo), começa-se a observar a divisão da sociedade em grupos tribais, gerando um “narcisismo de grupo” que faz prevalecer uma identidade não individual. Um indivíduo para estar integrado nesta sociedade, precisa esconder-se por trás de uma mascara que é “aceita”, para poder proteger seu individualismo.
Esta mascara, entenda-se aqui tanto a vestimenta/uniforme quanto o agir costumeiro do individuo, caracteriza o modo de ser dos membros dos diversos grupos sociais - parafraseando São Tomas de Aquino, “o hábito faz o monge”.
Nos grupos informais da sociedade pós-moderna existe a exacerbação do corpo concomitantemente com o desaparecimento do individuo em meio ao grupo – se por um lado o ser humano chega até mesmo às últimas conseqüências para se destacar na “multidão”, por outro ele estará portando uma persona igual às demais da sua tribo.
Assim podemos fazer uma aproximação ao que Durkheim dizia em relação a um “conformismo moral”, onde toda sociedade tem necessidade do conformismo/conformidade dos costumes, uma necessidade intrínseca de estar-junto. O elo que proporciona este estar-junto pode ser racional (contrato, costumes, interesse cultural, político, econômico, etc.) ou imaginal (afeto, atração, sedução, etc.).
No meio social a imitação liberta o individuo “dos tormentos da escolha” (expressão usada por Maffesoli), ao mesmo tempo em que o identifica como membro de um grupo. Sendo assim, esta imitação será o fator emblemático de agregação social dentro de um grupo ou tribo.
Na pós-modernidade, a reunião e a separação são relativas, pois o indivíduo transita de uma tribo para outra e veste o traje adequado para cada ocasião.
Assim sendo, tanto na maneira de se vestir, pensar ou agir, estamos, como afirma Maffesoli em No Fundo das Aparências, diante de uma “seqüência de conformismos mais ou menos cambiantes”, o que caracteriza que se vive em um constante presente, onde cada indivíduo não segue preceitos constantemente, mas muda de uma “moda” para outra conforme sua vontade.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário