segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A arte como produto?

Quando se aborda o tema da massificação da arte, a primeira coisa que nos vem à cabeça é algo que não tem profundidade e que transforma o observador num ser passivo que apreende a informação, mas não consegue obter uma visão critica desta - apenas é atingido sem usar o seu poder de escolha.
Entretanto idéias como essas, suscitadas por teóricos como Adorno e que faziam sentido no começo do século XX com o seu modelo fordista de produção, sempre partiam de um mesmo pressuposto: a massa (objeto amórfico e homogêneo) não poderia usar o seu poder de escolha a fim de possuir maior “atuação” diante desses novos tempos.
Adorno critica a chamada Indústria Cultural, relativizando todo e qualquer objeto de cultura oferecido à massa – no seu caso, em particular, a crítica dirige-se ao cinema, que considerava como arte pronta, que se esgotava em si mesma.
Ao observarmos isto, podemos concordar que de fato o cinema é a “arte” que mais se aproxima do que podemos chamar de um “produto”, pois surgiu como uma indústria que era utilizada para entreter as classes menos favorecidas e servia apenas como mais uma atração em um show de variedades. Através do século XX Adorno observou muito bem que o cinema funcionava como um produto que culminou com o surgimento de Hollywood, onde a arte ficou relevada a segundo plano.
Porém isso não impede que dentro deste meio de produção, não possa existir espaço para algo criativo e que seja um terreno fértil para um debate de idéias.
Artistas como Marcel Duchamp, partindo de idéias de Stéphane Mallarmé, dizia que a obra seria cada vez mais pessoal (única) e, portanto do povo, quanto mais difícil ela fosse. Algo semelhante dizia Vladimir Maiakovski que acreditava que se o povo (a massa indistinta) fosse apresentado paulatinamente a discursos menos simplistas saberiam entender e apreciar o que lhe era apresentado, e observava que uma arte popular não é necessariamente algo pouco profundo.
Regimes autocráticos, centrados na figura de um líder, sempre preferiram acreditar que a massa não tem capacidade de entender discursos mais elaborados e, portanto, deve ser mantida ignara. Assim, tanto os panfletos doutrinários quanto as amostras culturais oferecidas ao povo devem ser simplistas e conclusivas, sem deixar margem a análises e críticas.
Walter Benjamin, por sua vez, afirmava que o cinema podia ser enquadrado como uma arte com valor de exposição, pois nele há a síntese da exposição de uma obra de arte, já que traz consigo a reprodutibilidade técnica desta. Diferentemente do teatro, que ainda carrega uma espécie de valor de culto, pois uma peça não pode ser reproduzida tecnicamente – a cada nova encenação, a mesma peça, apresentada pelos mesmos atores, com o mesmo diretor, o mesmo cenário, será diferente da anterior.
Assim, o teatro que ainda traz consigo a característica da ‘aura’ (o valor de culto) com a perda desta, essa apresentação única se perde no tempo e não poderá nunca mais ser vista, acaba sofrendo uma crise dentro do universo cultural.
Assim, cada vez mais a arte caminha em direção à reprodutibilidade, porém sem que a obra original perca sua importância, pois hoje em dia vemos que o valor de exposição se confunde com o valor de culto.

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