sábado, 14 de novembro de 2009

O cotidiano como espaço histórico/ cultural

Na visão de Agnes Heller, o sujeito é “livre” para fazer suas escolhas, porém essas escolhas estão acompanhadas de um peso histórico/ cultural, como no caso de Mikhail Bakhtin. Porém Heller diz que essas escolhas do sujeito são individuais, isso quer dizer, não respondem por uma classe e sim residem no próprio indivíduo, que é por assim dizer a força motriz da sociedade.
Assim, é no cotidiano que acontecem as transformações, e não apenas em uma consciência de classe que se articula em diferentes caminhos, como algo homogêneo. Fazendo uma aproximação ao pensamento de Horkheimer e Adorno, essa separação do mundo em classes sociais, responde mais a uma visão fordista da sociedade como massa.
Porém esse indivíduo, que como já falado, esta ligado a um pensamento histórico/ cultural, tem a sua liberdade de escolha, mas dentro de uma gama de possibilidades que o próprio cotidiano traz para si. Usando um exemplo, bem grosseiro; um indivíduo que nasce em uma comunidade no “alto - Xingu”, necessariamente não seguirá apenas costumes de sua tribo, porém também não terá uma visão americanizada de mundo, pelo fato de o seu “passado” não responder por algo que não tem espaço em sua cultura.
Essa idéia de que é no cotidiano que as coisas se formam, leva-se a procura e o entendimento de como cada discurso é formado. É como já havia falado no texto sobre Bakhtin, o agir e o não agir respondem a escolhas ideológicas que podem ser tudo menos neutras – “não podemos dizer que temos um discurso apolítico, pois o simples fato de não querermos discutir política tem por trás uma escolha ideológica”.
Essa visão de que cada indivíduo cria através de uma relação social, demonstra como algumas idéias são impostas por uma determinada visão, e que é aceita como uma verdade absoluta. A idéia de que o Brasil foi “descoberto” em 1500, esta ligado a uma visão eurocêntrica de mundo e que é assumida por muitos. Pois, no momento em que assentimos que só existimos como país e povo, no momento em que Portugal chegou aqui, emulamos apenas a idéia que outro povo tem de que como “berço” da civilização saiu de seu continente para dar “inicio” a outros povos. Assim nossa consciência de povo, só é formada a partir da consciência que outro tem do Brasil.
Como Heller diz, se é no cotidiano que se forma o individuo, podemos perceber no Brasil, como cada dia mais aceitamos passivamente a este pensamento que vem de outra cultura. Um exemplo bem comum pode ser observado em nossa própria língua. Hoje os bancos têm um direcionamento para clientes mais “polpudos”, que se filiam a agências personalizadas para este publico e que têm nomes em língua estrangeira (Personalité, Prime, Uniclass). O que demonstra uma visão que boa parte dos brasileiros tem de que “tudo que é melhor” é algo estrangeiro.
Assim cada indivíduo é que faz o seu cotidiano, e é nele que se tem espaço para se entender os rumos e escolhas que cada sociedade toma e, portanto, é no presente que criamos o nosso passado histórico/ cultural.

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