segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O Corpo

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O corpo pertence à natureza: seu metabolismo, fisiologia, ergonomia, biomecânica são similares a de muitos animais. Esta divisão entre corpo e alma, constitui o Ocidente desde a antiguidade e obscurece o quanto o corpo humano é resultado de relações sociais e apropriações culturais. Cada corpo é também constituído por discursos (adjetivos, elogios, valorização/recusa de certas “partes”), por saberes diversos (tradição, medicina, bioquímica, etologia, antropologia, feminismo etc.) e expressa a resultante complexa de muitas condicionantes sociais.

O papel das mídias na sociedade pode ser pensado a partir do seu poder de propor definições da realidade via agendamentos e tematizações. O conjunto de discursos da mídia (revistas, jornais, televisão, rádio, cinema etc.) traz uma multiplicidade de ‘vozes’ propondo diferentes definições do que seja “certo”, “bom” ou “bonito”. Estas definições são apresentadas sutilmente, sem estardalhaço, elas apenas estão ali ou não estão o percentual de pessoas negras no mundo da TV é muito baixo se observarmos, em capas de revista as maiorias das mulheres são brancas, o que configura uma espécie de exclusão simbólica que valoriza características de um padrão racial branco. Em 100% dos casos, a mulher da capa é magra: atributo básico dos corpos discursivos dessa mídia, o corpo humano encontra-se instituído nos produtos midiáticos

O corpo idealizado existe sua inserção em uma sociedade estratificada por classes sociais. A indústria dos cosméticos, cirurgias e tratamentos estabelece padrões de distinção de acordo com a posição de classe de cada cliente. Prótese de silicone, tratamentos para dentes, cabelos, fitness etc., estão dispersos ao longo do mercado, hierarquizados em “primeira, segunda ou terceira linha”. O “corpo ideal” custa caro, e o mercado da beleza oferece produtos e serviços a todos os bolsos. Entre o alisamento de uma atriz ou apresentadora de sucesso e um procedimento doméstico, há sutilezas entre um cabelo liso e outro, requintes de hierarquização social dos corpos.

O corpo ideal não pode sequer admitir gratificação pela saciedade o preço é a culpa introjetada. Para ser “bonita”, é preciso passar fome. E não se trata de vaidade as mulheres que “os outros” considerarem bonitas terão vantagem para conseguir o emprego, assinar o contrato, manter os clientes. É preciso tomar consciência para que estas estruturas de opressão possam ser questionadas, relativizadas, pensar e atuar criticamente sobre as coisas do mundo não resolve tudo, a performance do corpo na mídia é mais conseqüência do que causa de mudanças sociais.

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