domingo, 22 de novembro de 2009

Educação Mercantil (referente a aula do dia 10/11)

O caso da aluna que usava um vestido curto da UNIBAN foi exemplar para a aula que tivemos no dia 10/11 sobre Sociedade de Consumo e Sociedade do Trabalho. O que houve com ela e a postura adotada pelos outros estudantes e pela Universidade (se é que se pode chamar essa instituição de Universidade) demonstram, entre outras coisas (como o fascismo), a mercantilização completa do ensino.
Segundo Fausto Castilho¹ em uma entrevista para o caderno ALIÁS:

“os educadores dessa época [1920], entre eles Fernando de Azevedo, tinham uma proposta de escolarização que desapareceu porque em 1965 a ditadura resolveu mercantilizar o aparelho de educação. Ai começa a catástrofe brasileira. A mercantilização não permite a escolarização nacional. Para esses educadores dos anos 20, a instancia da democratização não é a universidade mas o lycée Frances, o gymnasium alemão ; é isso que estava a caminho de ser instalado no Brasil, isto é, o liceu publico para toda a população jovem e não para um segmento como faz a mercantilização.”

Nesse contexto, o aluno vira cliente e os donos da “universidade” são apenas vendedores de um diploma. Essa aluna, especificamente, passa a não ser interessante para esses empresários, a partir do momento que “degreniu” (palavra usada por uma das alunas da Uniban revoltada com o vestido da estudante) a imagem do estabelecimento comercial.
Concomitantemente a esse processo de mercantilização e transição da Sociedade do Trabalho (que dura até a década de 1960 aproximadamente) para a Sociedade do Espetáculo (de 1960 a 1990) e posteriormente Sociedade do Consumo (de 1990 em diante), ocorre o total esvaziamento dos indivíduos da sociedade. Não se constroem mais laços sociais, mas sim relações superficiais com vínculos frágeis. A partir desse contexto, torna-se impossível o refletir político e ético e, assim, o cerne da vida passa a apontar para o hedonismo, o consumo e para o culto ao corpo. Segundo Olgário Matos²: “a temporalidade do mercado confisca o tempo da reflexão, selando o fim do papel filosófico e existencial da cultura”. Guy Debord³, na década de 1960 já percebia a sociedade e boa parte do que ela viria a ser vinte anos depois, tanto no âmbito da educação como em outras instâncias: “a espetacularização da reificação no capitalismo moderno impõe a cada indivíduo um papel na passividade generalizada.” Trata-se do esvaziamento, da não reflexão, do consumo exacerbado.
Guy Debord vai além ao criticar o movimento estudantil e ao dizer que trata-se de um movimento miserável, espetacularizável. Refere-se a diversas faculdade e escolas como “fábricas de criação precoces”. Critica os estudantes e as faculdades por dizerem tudo a respeito da sociedade “exceto aquilo que ela efetivamente é: mercantil e espetacular.” Por isso, crê que o movimento estudantil é apenas espetáculo por negligenciar o essencial e ignorar o ponto de vista total da sociedade moderna.
Sobre o consumismo, o pensador já prevê a atualidade:

“O estudante orgulha-se de comprar, como toda a gente compra, as reedições em livros de bolso duma série de textos importantes e difíceis que a ‘cultura de massas’ propaga a uma cadência acelerada. Acontece, simplesmente, que o estudante não sabe ler, contentando-se em consumi-los com os olhos.”
Se na lógica da Sociedade do Trabalho, era preciso trabalhar para comprar o que necessitava, agora, na lógica do puro consumo, a lógica é necessitar de novas necessidades, é desejar novos desejos, o que acarreta em uma sensação de não-satisfação infinita, um ciclo vicioso entre consumir e não se saciar, progressivamente.


Referencias bibliográficas

1- O Estado de São Paulo. Caderno ALIÁS. Dia 15/11/09.
2- O Estado de São Paulo. Caderno ALIÁS. Dia 15/11/09.
3- Da Miséria no meio Estudantil – Guy Debord.

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